A verdadeira história do cofre do Dr. Rui
Trinta anos depois, ISTOÉ revela fatos inéditos da maior ação da guerrilha brasileira, que tomou US$ 2,596 milhões da amante de Adhemar de Barros
LUIZA VILLAMÉA
A mais espetacular ação da luta armada no Brasil foi anunciada ao resto do mundo pelo capitão Carlos Lamarca, um dos líderes da guerrilha contra o regime militar instalado em 1964. "Depois de uma longa investigação, localizamos uma parte da famosa ‘caixinha’ do ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros, enriquecido por anos e anos de corrupção. Conseguimos US$ 2,5 milhões. Esse dinheiro, roubado do povo, a ele será devolvido", disse Lamarca à agência internacional France Presse. Ele se referia a um cofre com uma fortuna que corresponde hoje a R$ 20,698 milhões, retirado na sexta-feira 18 de julho de 1969 da mansão onde morava o cardiologista Aarão Burlamaqui Benchimol, irmão de Ana Guimol Benchimol Capriglione, que fora amante de Adhemar de Barros, morto quatro meses antes. Conhecida nos meios políticos pelo pseudônimo de Dr. Rui, Ana teve de dizer na polícia que o cofre estava vazio. Na realidade, a guerrilha tinha informações de que o ex-governador deixara oito cofres, mas só conseguiu colocar a mão em um deles. Foi uma operação preparada nos mínimos detalhes, com 13 participantes diretos, de diferentes partes do País, que se conheciam por codinomes. Trinta anos depois, ISTOÉ revela os detalhes da operação e a identidade de protagonistas que nem se quer foram citados no Inquérito Policial Militar (IPM) que apurou o caso. Foi uma ação cinematográfica.
Pois não, Dr. Rui." Era assim que o governador Adhemar de Barros atendia aos telefonemas da amante, Ana Gimol Benchimol Capriglione. Nos bastidores da política, porém, todos sabiam que Dr. Rui era o pseudônimo que o próprio Adhemar criara para ela. Viúva aos 40 anos de um cardiologista que fora colega de Adhemar na Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, Ana começou a se envolver com o político logo depois da morte do marido, em 1953. Além do relacionamento amoroso, ela também influenciou o governador nas decisões políticas e até na composição do secretariado.
Famoso pelo slogan "rouba, mas faz", Adhemar inaugurou o período de construção de grandes obras em São Paulo. Desde quando se elegeu deputado estadual, em 1934, até quando teve seus direitos políticos cassados, em 1966, sua trajetória esteve sempre associada à corrupção. Quando foi interventor em São Paulo (1938-1941) obteve uma "arrecadação extraordinária" com propinas de casas de jogos e prostíbulos. Uma vez, comprou, com dinheiro público, 36 automóveis, distribuindo a maioria entre parentes e amigos. Para si, reservou um Oldsmobile Sedan de Luxo.
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