quinta-feira, 15 de março de 2012

Aniversário


a de Aniversário

Procurei no dicionário,
Com paciência e cuidado,
O real significado
Da palavra aniversário.
Aquele livro pesado,
Mestre dos visionários,
"Pai dos burros" batizado,
Pareceu-me sectário,
Ao responder meu chamado.
Deveras decepcionado,
Joguei o meu dicionário
Na estante, empoeirado,
Para pregar, solitário,
O meu significado
Da palavra aniversário.
Diz assim, o verbete lendário,
Ontem, por mim criado:
"Aniversário: Espécie de relicário,
Muitíssimo bem guardado
Nas folhas do meu diário,
Dos versos que eu escrevi,
Com todo amor, e não li,
Durante o ano passado."
Carlos Eduardo Drummond

sábado, 10 de março de 2012

As mãos de meu pai

Mario Quintana : As Mãos do Meu Pa
Mario Quintana
As Mãos do Meu Pai

As tuas mãos tem grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já cor de terra
— como são belas as tuas mãos —
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram
na nobre cólera dos justos...

Porque há nas tuas mãos, meu velho pai,
essa beleza que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam
nos braços da tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas...

Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente,
vieste alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los contra o vento?
Ah, Como os fizeste arder, fulgir,
com o milagre das tuas mãos.

E é, ainda, a vida
que transfigura das tuas mãos nodosas...
essa chama de vida — que transcende a própria vida...
e que os Anjos, um dia, chamarão de alma...

(Mario Quintana)
Faz tempo que esse poema me encanta, mas hoje ele me entristece, perdi meu pai no dia 14 de junho de 2011, então ainda não consegui tirar a dor que incomoda às vezes, uma dor que não se explica, ela vem do coração, parece que cortaram um pedacinnho dele e não cicatriza.
Meu pai foi um homem simples, foi seminarista e depois desistiu é claro de ser padre, conheceu minha mãe e ai formou-se a familia. Meu pai não era de falar muito, mas sempre teve uma preocupação constante com nossa saúde, se estávamos com frio, com o sereno na cabeça, o pé descalço. Era um homem de saúde frágil, tinha problemas de coração, pressão alta, mas não se queixava, sempre fomos uma familia unida, missa aos domingos era sagrada, aniversários, Natal, férias, todo mundo junto. 
Com o passar dos anos ele foi ficando cego, perdeu uma vista bem no ano em que me casei, depois de uns 8 anos foi perdendo a outra, foi difícil para ele, para minha mãe e para todos nós, ele que já era calado foi ficando mais quieto, as vezes perguntava para ele como ele se sentia, ele diziia que era difícil mas que aceitava.
No ano passado minha mãe teve complicações físicas e descobrimos um câncer, ele não sabia, mas acho que deduziu que havia algo sério acontecendo.
Um dia após meu aniversário, levei ele ao pronto-socorro já que ele apresentava uma dormência nos dedos, o diagnóstico foi ruim ele estava tendo um AVC hemorrágico, ficou na UTI, não saiu mais durante 3 meses.
A única coisa que não pude fazer por ele e que me dói foi um pedido, quando ele entrou na UTI ele pediu que eu ficasse com ele, e eu não pude. Pai onde você estiver, o que eu mais queria era voltar aquele dia e te dar colo, como muitas vezes você me deu, ficar com você, como muitas vezes você ficou quando eu estava com medo com dor.
A falta que ele me faz é muita, mas o que sou hoje devo muito a ele que foi um homem honesto. trabalhador e acima de tudo tolerante principalmente com sua cegueira tardia.

quarta-feira, 7 de março de 2012

A mulher de 50

Nos meus 10 anos sempre chamava uma mulher de 40 ou 50anos de senhora, quando era uma tia então pedia até a benção, naquele tempo nem pensava que um dia teria essa idade.
Hoje tenho 51 anos, mas não me sinto uma senhora, será que nós mulheres avançamos nas conquistas e não admitimos que somos senhoras, ou realmente a realidade é outra. é claro que ocorrem mudanças físicas, psicológicas, não há como fugir disso, nessa idade a menopausa chega e esse desequilibrio hormonal afeta em todas as maneiras, cai a ficha de que você não é mais fértil, sente até falta da menstrução, porque sendo fértil do ponto de vista animal mesmo,você é procurada pelo sexo oposto. É uma fase muito estranha, não sei se para todas, você se livra de um monte de culpas e repressões, mas ao mesmo tempo tem saudades dos seus 30 anos, começa a pensar que logo vai ter 60, e ai vai acabar tudo mesmo? colocar chinelos e fazer tricô?Enfim coisas de mulher quepcos homens não entendem.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Nos trilhos do trem


Companhia Estrada de Ferro Sorocabana foi criada em 2 de fevereiro de 1870 por empresários sorocabanos liderados pelo comerciante de algodão Luís Mateus Maylasky, cidadão austro-húngaro, com um capital inicial de 1 200 contos de réis, posteriormente elevado para 4 mil contos. Maylasky obteve da então província de São Paulo uma garantia de juros de 7% ao ano sobre o capital que fosse investido na ferrovia.
O primeiro trecho da ferrovia foi inaugurado em 10 de julho de 1875 e era formado por uma única linha, em bitola métrica, entre São Pauloe a fábrica de ferro de Ipanema, passando por Sorocaba.
Inicialmente concebida para transportar as safras de algodão, as receitas geradas pelo transporte desse produto logo se revelaram insuficientes, levando a ferrovia a enfrentar sérias dificuldades financeiras. Em assembléia geral realizada no dia 15 de maio de 1880 Luís Mateus Maylasky foi demitido e substituído por Francisco de Paula Mayrink, que acusou seu predescessor de gestão ilegal, malversação de fundos e inclusive de desfalque.
Mayrink, convencido que o sucesso da ferrovia estava condicionado ao transporte do café, expande seus trilhos na direção de Botucatu, para atingir regiões cafeeiras indo até Assis, onde se localizavam as oficinas da ferrovia, tornando-se uma das principais cidades do interior paulista.

Nas minha mais remotas lembranças estão as viagens de trem que fiz com minha familia entre os anos 60 e 70, pela antiga Sorocabana.
Primeiro a Estação era a Júlio Prestes, de onde saiam os trens de passageiros para interior paulista, o prédio era lindo,  enorme, com detalhes de colunas que para mim pareciam enormes, os vitrais, deixava a gente enebriado e ao mesmo tempo com medo de se perder no meio dela, ainda mais que a minha mãe dizia para a gente ter cuidado com o homem do saco, não falar com estranhos e não comer nada que te oferecessem.. Essas viagens eram feitas nas férias escolares, pois viemos morar em São Paulo em 64 e meus avós, tios enfim toda a família tinha ficado na pequena cidade do interior chamada Santa Cruz do Rio Pardo, e era para lá que íamos passar as férias. Éramos eu, meus dois irmão, minha mãe e ,meu pai. A viagem era longa, mas era uma mistura de encantamento com as paisagens verdes intermináveis,  pastagens com vacas, bois, cabras, e ao mesmo tempo um enjôo pelo balanço do trem. Quando a viagem era à noite era muito bom, geralmente íamos no carro leito, era um espaço pequeno , mas tinha banheiro próprio, um beliche e poltrona, para nós era um luxo. O restaurante era tão gostoso, você podia fazer um lanche e beber um refrigerante olhando pela janela a paisagem. As lembranças desse tempo são tão boas, que é uma pena que eu ainda não tenha ido a sala Juilo Prestes, só para olhar a arquitetura e lembrar dos tempos em que frequentei o lugar como passageira dos trens.