segunda-feira, 23 de julho de 2012

Dormindo

DormindoDe qual de vós desceu para o exílio do mundo 
A alma desta mulher, astros do céu profundo? 
Dorme talvez agora... Alvíssimas, serenas, 
Cruzam-se numa prece as suas mãos pequenas. 
Para a respiração suavíssima lhe ouvir, 
A noite se debruça... E, a oscilar e a fulgir, 
Brande o gládio de luz, que a escuridão recorta, 
Um arcanjo, de pé, guardando a sua porta. 
Versos! podeis voar em torno desse leito, 
E pairar sobre o alvor virginal de seu peito, 
Aves, tontas de luz, sobre um fresco pomar... 
Dorme... Rimas febris, podeis febris voar... 
Como ela, num livor de névoas misteriosas, 
Dorme o céu, campo azul semeado de rosas; 
E dois anjos do céu, alvos e pequeninos, 
Vêm dormir nos dois céus dos seus olhos divinos... 
Dorme... Estrelas, velai, inundando-a de luz! 
Caravana, que Deus pelo espaço conduz! 
Todo o vosso dano nesta pequena alcova 
Sobre ela, como um nimbo esplêndido, se mova: 
E, a sorrir e a sonhar, sua leve cabeça 
Como a da Virgem Mie repouse e resplandeça! 

Olavo Bilac, in "Poesias"

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