sábado, 10 de março de 2012

As mãos de meu pai

Mario Quintana : As Mãos do Meu Pa
Mario Quintana
As Mãos do Meu Pai

As tuas mãos tem grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já cor de terra
— como são belas as tuas mãos —
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram
na nobre cólera dos justos...

Porque há nas tuas mãos, meu velho pai,
essa beleza que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam
nos braços da tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas...

Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente,
vieste alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los contra o vento?
Ah, Como os fizeste arder, fulgir,
com o milagre das tuas mãos.

E é, ainda, a vida
que transfigura das tuas mãos nodosas...
essa chama de vida — que transcende a própria vida...
e que os Anjos, um dia, chamarão de alma...

(Mario Quintana)
Faz tempo que esse poema me encanta, mas hoje ele me entristece, perdi meu pai no dia 14 de junho de 2011, então ainda não consegui tirar a dor que incomoda às vezes, uma dor que não se explica, ela vem do coração, parece que cortaram um pedacinnho dele e não cicatriza.
Meu pai foi um homem simples, foi seminarista e depois desistiu é claro de ser padre, conheceu minha mãe e ai formou-se a familia. Meu pai não era de falar muito, mas sempre teve uma preocupação constante com nossa saúde, se estávamos com frio, com o sereno na cabeça, o pé descalço. Era um homem de saúde frágil, tinha problemas de coração, pressão alta, mas não se queixava, sempre fomos uma familia unida, missa aos domingos era sagrada, aniversários, Natal, férias, todo mundo junto. 
Com o passar dos anos ele foi ficando cego, perdeu uma vista bem no ano em que me casei, depois de uns 8 anos foi perdendo a outra, foi difícil para ele, para minha mãe e para todos nós, ele que já era calado foi ficando mais quieto, as vezes perguntava para ele como ele se sentia, ele diziia que era difícil mas que aceitava.
No ano passado minha mãe teve complicações físicas e descobrimos um câncer, ele não sabia, mas acho que deduziu que havia algo sério acontecendo.
Um dia após meu aniversário, levei ele ao pronto-socorro já que ele apresentava uma dormência nos dedos, o diagnóstico foi ruim ele estava tendo um AVC hemorrágico, ficou na UTI, não saiu mais durante 3 meses.
A única coisa que não pude fazer por ele e que me dói foi um pedido, quando ele entrou na UTI ele pediu que eu ficasse com ele, e eu não pude. Pai onde você estiver, o que eu mais queria era voltar aquele dia e te dar colo, como muitas vezes você me deu, ficar com você, como muitas vezes você ficou quando eu estava com medo com dor.
A falta que ele me faz é muita, mas o que sou hoje devo muito a ele que foi um homem honesto. trabalhador e acima de tudo tolerante principalmente com sua cegueira tardia.

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